aquele chiclete que você gosta tá voltando à moda

eu tenho vivido como o sertão: estes meus vazios. tenho enxergado pelos olhos da solidão, porque, afinal, não existe calvário com lugar para dois. do porão da memória, eu me lembro daquilo tudo que não conheci. é como se estivesse no black lodge de twin peaks. já falei que tenho uma tatuagem disso? bom, isso é uma outra história. Mentira!, não é, porque lá é fronteira entre o físico, o tempo, o nada. é margem — e ao redor da margem, tudo é beira. e eu estava perdido na fronteira entre a secura e a garoa corrosiva das lembranças.
o vento deixou de ser sombra e entrou aqui na minha sala. eu estava tão bonito, tomando uma gin tônica zero (ordens médicas), ouvindo cat power (“it’s damned if you don’t and it’s damned if you do”). o vento entrou como uma dança devagar. e ouvindo esses ventos que vieram sabe-se lá de onde que consegui lembrar que tarde já é ontem. consegui lembrar que não morri mesmo quando tudo em volta ficou vazio. é porque a janela, às vezes, só precisa estar aberta. é porque a realidade, tampouco os sinos, não dobram quando a gente quer.
ou não fosse a vida finita.