fé cega, faca amolada e pé atrás

tomar decisões, desde criança, cria um luto em mim. eu quero tudo, quero demais, e aí eu bato as pernas. daí que pra não passar por lutos, aprendi que é melhor viver como um rascunho. e quem disse que isso não é uma decisão?
viver não faz sentido, tampouco é preciso, mas vivo ao vivo com fé cega e pé atrás — mais um duplipensamento que tem caminhado com minha sombra há algum tempo: aceitar os contraditórios simultaneamente.
eu quero muita coisa, tenho essa ânsia por querer demais e me atrapalho com minhas barbatanas, com medo do luto ou pela falta de coragem, mas ainda vivo querendo saber de tudo e esquecer de tudo.
até porque viver uma vez não conta, porque uma vez é nunca — isso é um provérbio alemão (queria ter um sobrenome alemão). e meus lutos não são como a realidade em que eu tô, mas uma representação dela — isto não é um cachimbo!
só eu sei andar meu caminho, mesmo sem saber até quando, porque eu aprendi que é preciso duvidar. isso me lembra um crochê que guardo com muito carinho: “as coisas ficam mais fáceis”. e podem ficar a cada dia, mas eu tenho que tentar todo dia. e essa é a parte mais difícil.
vou procurar bosques ou mandris para caminhar e não tropeçar mais.
é que eu tenho a fé cega, uma faca amolada e um pé atrás.