lo peor del dia — ou o pedaço de pão
a existência surpreende. eu acho que tudo surpreende porque a gente não tem noção de absolutamente nada e tamo tudo aqui jogada num geoide cheio de água que flutua num nada, né?, e ainda assim a gente sente todo esse tesão. o olhar é desejo, os objetos são desejos, as falas são desejos, as cores… desejos! to revendo uns filmes do almodóvar e não surpreende o nome da sua produtora chamar el deseo. almodóvar é transforma tudo em desejo. desejo pelas mulheres de la mancha. por agrado, com seus silicones, aqueles sorrisos e todo aquele emaranhado de sentimentos. por toda e qualquer personagem de rossy de palma com aquele seu nariz lindamente enorme.
nessas, eu entendi que nesse nosso fragmento de existência, a paixão é projeção no outro, é projetar aquilo que eu sou e o que eu gostaria de ser no outro — mas até quando eu serei? eu já sou? almodóvar abusa das modelos para o que ele idealiza de humanidade. talvez a gente seja tudo assim. a gente não é nada e tenta juntar os cacos nossos nos outros. daí surgem as guerras e os incels.
mas bom, que que eu tô juntando? que metonímias são essas? uso e abuso das metáforas, mas que que eu tô criando com isso? meu inconsciente manda, eu obedeço. acho que é isso que é a tal da subjetividade moderna por excelência (is there such a thing, maria homem?). que delírio! PASARON COSAS!
eu que não quero perder tempo! eu quero é a liberdade que me foi prometida desde meu primeiro suspirar fora da xota da minha mãe. sem liberdade eu tenho é medo, e o medo turva os sentidos. e quando o medo me move, eu devo ficar parado onde estou. a liberdade, então, é estado de movimento? de dança?
porque como se diz em la mancha, a liberdade não é um pedaço de pão.
e eu acho que preciso ligar pra minha analista.