mart’nália me ensinou muito
“bom é não saber o quanto a vida dura, ou se estarei aqui na primavera futura. posso brincar de eternidade agora — sem culpa nenhuma.” nália, mart’.
aprendi a ter um relacionamento delicado com o tempo. o não saber, o incerto, sempre foi um mistério fascinante, uma companheiro invisível que caminha ao meu lado e conversa comigo diariamente. talvez seja por isso que, cada vez mais, me sinto atraído por aquilo que não posso controlar, por essa liberdade em não conhecer o que vem depois. e isso faz com que eu me perca e bata em mim mesmo com minhas próprias barbatanas.
nos últimos 6 minutos e 31 segundos do último episódio de six feet under, claire pegou o carro depois de tirar uma foto da sua família enquanto nate sussurava em seu ouvido “você não pode tirar uma foto disso. isso já foi.” enquanto ela se mudava para o desconhecido, a vida passou ao som de breath me, da falecida cantora sia. a vida de todo mundo passou. foi embora. e só eu chorava ali no sofá.
enquanto eu aponto para o desconhecido, mais eu caminho, mais ruas, vielas, becos e ladeiras descubro, porque tô sempre perdido. me pergunto quantas vezes já estive aqui antes. quantas vezes me machuquei nesse mesmo lugar antes (mas que cabeça, a minha). o que não vivemos ainda é o único chão que existe e ele tá lá, virando a esquina. será que são notícias boas? sei lá!, o saber das coisas às vezes me cobra caro.
ainda vou pegar o carro e partir para onde que não conheço. a aridez do não saber é meu motor. viajar no caminho do que ainda não vi, virando as curvas da estrada do que não conheço. e só me dar conta de tudo quando tudo acabar.
benditas, as coisas que não sei.