o que eu sempre quis saber de verdade

joão meirelles
2 min readApr 28, 2022

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esse gato me lembra tanto minha amiga ana gabi

meu peito apertava, os braços dormiam, as pernas ficavam fracas. na cabeça, uma sensação de desmaio. no peito, nada. era vontade. vontade de chorar, vontade de sair dali, vontade de ir pra onde? pra onde a terra respirava? pra onde minha dor dançava?

sabia que meu destino caminhava a passos largos para um presente sem futuro. via de longe o corredor cheio de portas, mas que só uma abriria pra mim. no caminho eu perguntava: quanto tempo o tempo tem? o tempo vai me dar tempo? a crise de ansiedade não deu tempo. sem saber, eu já tinha ido. lá o tempo me esperava. sem pânico.

quando vi, acordei. respirei fundo, senti o peito enchendo todo, a visão não tava mais turva. olhei pra trás. as portas estavam todas abertas. o milagre científico que a bibi me levou pra fazer, que a terapia e as doses de sertralina e clonazepam fizeram no meu processo de renascimento me fizeram sentir like a modern jesus — mas valha-me deus rezar por mim!

o que eu sempre quis saber de verdade é se o choro me fez viver mais, se pensar me fez sentir. nah, não é nada disso que eu tava pensando.

saí pela manhã, senti o cheiro dos jardins, o cheiro do suor depois de uma corrida, o sabor do piso no asfalto e do banho de sol.

espero que sejam boas notícias vindo.

é o que eu sempre quis de verdade. pelo menos nos últimos anos.

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joão meirelles
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Written by joão meirelles

tudo acontece demais, disse o cavalo. eu concordo.

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