o uber gago 3 estrelas me pediu para deixar a capa de chuva no porta-mala

a chuva daquele sábado pareceu sei lá um filme com peter sellers. eu tava tão bonita! eu tinha tanta coisa pra fazer. e choveu. podia ser aquelas chuvas que a gente bota na cabeça que vem pra renovar a gente, né?, com o show acontecendo, todo mundo feliz, todo mundo livre. podia. acabou. encharcado, fui embora cansado, chego em casa, tomo um banho, faço um drink com alecrim, vou tomando os goles e ligo a tv. tá tocando cat power — metal heart no letterman. acho que nada supera essa. agora tomado pelo drink, canto junto. “it’s damned if you don’t and it’s damned if you do”. eu queria conseguir cantar essa com a sinceridade da cat power de quem tá fodida e la nave va.
respiro meu silêncio, vidro os olhos na fumaça azul que a luz faz com meu cigarro. foram anos bem difíceis, lembro bem. lembro também de não esquecer. o esquecimento apaga não só o que já foi, mas quem eu sou, porque já fui e ainda vou ser. decidi que vou rezar a outra novena de dona canô: quem não morre, envelhece. e eu já cansei de falar: eu sou atemporal.
começa a tocar outra música e sinto que algo vem por aí. não sei o que é, mas me alentou. devem ser notícias boas.
it’s damned if you don’t and it’s damned if you do.