vê claramente quem já lavou seus olhos com lágrimas

joão meirelles
2 min readFeb 27, 2024

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pensa que agrado está contando essa história

o violão brilhava sobre a noite com o reflexo lancinante que a lua fazia atrás das nuvens ralas. foi ali que ela morreu. com os olhos abertos e um sorriso de quem se liga no mar, ela estava lá, mortinha. morta.

primeiro foram as pernas voando feito borracha. depois, saiu com o riso solto de músculo leve num som que foi embora como um navio espacial em mar, sob a popa e sua circunstância.

a notícia se espalhou pela cidade, as pessoas começaram a se reunir na praça enquanto panelas ficavam no fogo e as crianças brincando e com fome. o velho e sua barba e seus braços imensos, já abandonado pela vida, continuava tocando sua melodia, como se o violão compreendesse o saber das coisas. o som ecoava nas vielas estreitas e nos cantos esquecidos. a senhora, que não largava seu melhor amigo, o cigarro, segurava seu cachorro na coleira quando disse: — “nenhum canto é mais triste que o final.”

foi noite de novo e ela morta no mar, ainda com o riso solto. morta. é como se ela tivesse saído do espelho. o violão que voltava a brilhar agora sussurrava. morta. ela estava morta. o velho e seus braços imensos testemunhavam o lamento que vinha do mar, num silêncio que só existia no grito.

é que não existe molhado igual ao pranto.

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joão meirelles
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Written by joão meirelles

tudo acontece demais, disse o cavalo. eu concordo.

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